Donnerstag, 22. August 2013

Istambul - Üsküdar

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt


Viajar em Istambul pelo lado da Anatólia é descobrir uma outra cidade, mais genuína, e longe do turismo quotidiano que se passeia por aquele pequeno monte do Palácio dos Sultões do lado europeu desta maravilhosa cidade.

Descobrir-lhe os cantos e os segredos mesmo, só é possível com os istambulenses que vivem quotidianamente nesta cidade que foi a capital de impérios.

Esta metrópole de 14 milhões de habitantes, número oficial, estende-se a perder de vista, e o trânsito é um pesadelo de todos os dias.

Ao longo dos séculos viveram aqui pacificamente, lado a lado, as três religiões do Livro, com alguns desencontros menos felizes. Mas, em geral, e se compararmos com a intolerante Europa da Idade Média e, mais tarde, da Inquisição, e já no séc. 19, a dos progroms eslavos, e por fim, a do Holocausto, esta cidade, que foi Bizâncio, e depois Constantinopla, e que é Istambul desde a conquista otomana em 1453,  foi, e é, um exemplo de convivência e tolerância entre as nações e as religiões.

A sua arquitectura, música e culinária reflectem isso mesmo, o cruzamento e a passagem das diversas culturas com simbioses bem-sucedidas. O filme "Crossing the Bridge - the music of Istanbul" do realizador germano-turco, Fatih Akin, compartilha com o seu público esta riqueza cultural. 

Istambul situada a cavalo entre a Europa e a Ásia, ou a caminho da Europa ou do Médio Oriente, no Ocidente para uns e no Oriente para outros, esta cidade que vive em espargata cultural, é uma diva temperamental que nos planta a tentação de lhe descobrir todos os segredos. E assim nos enfeitiça como uma odalisca com os seus muitos movimentos ondulantes para lhe dedicarmos uma vida inteira, que sabemos nunca chegará para a desvendar totalmente! Istambul que tal como Lisboa se espalha por sete colinas frente a encontros de águas marítimas (e doces no nosso caso).

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Atravessamos do lado europeu para o asiático de vapur e atracamos no iskele de Üsküdar. O nosso objectivo é fazer turismo naquele bairro e, por fim, seguir a sinuosa margem no sentido do Mar Morto até Beykoz (isto ficará para outro "post").


A pé por Üsküdar


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Üsküdar é descrito por alguns como um município da grande Istambul algo conservador (o AKP foi o partido mais votado nas últimas eleições locais). Mas a política não é reconhecível numa primeira visita, ou talvez sim, no investimento que se tem feito na reabilitação do seu passado otomano. Üsküdar é o ponto de encontro de cacilheiros, dolmuş, autocarros de e para todos os pontos da cidade. O enorme estaleiro de obras da linha de metro com destino a Kartal desfeia o passeio marítimo temporariamente. Os istambulenses deslocam-se seguros e pacientes entre os vários meios de transporte acessíveis nesta sua vida de grande metrópole.
© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

O palácio de Mihrimah filha do sultão Suleimão e da sultana Hürrem, as fontes, as mesquitas, as livraria e os cemitérios otomanos do bairro surpreendem e deslumbram os visitantes. A maestria e a originalidade do arquitecto Sinan são imediatamente reconhecíveis neste conjunto arquitectónico de grande beleza e concentrado num espaço relativamente pequeno (embora a sua população atinja os 535 mil habitantes segundo dados de 2012). 


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt


As esplanadas junto ao mar convidam para se tomar um çay ou um türk kafesi seguido de um eventual fal okumak, que nos falará do futuro lido numas borras de café deixadas no fundo da chávena, enquanto se observa os muitos pescadores de braços prolongados por canas de pesca e que, pacientemente, povoam o passeio marítimo que se estende por vários quilómetros. Os istavrit, ismarit, sardalya dão os últimos suspiros nos baldes dos balıkcılar bem sucedidos. Em pano de fundo, sucedem-se por via marítima, os cacilheiros, os vapur e os deniz otubusleri, os cruzeiros, os barcos de recreio, e os navios de carga e os petroleiros que quando de casco vazio passam gigantescos, quais monstros marinhos, e que parecem saudar a kiz kulesi, um marco das águas de Istambul, no que parece uma auto-estrada fluvial sempre à hora de ponta e um caos muito bem organizado!

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-
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Dondurma taze taze - apregoa o vendedor, mesmo ali ao lado, do que parece ser gelado Maraş, um gelado mais sólido do que o habitual, tipicamente turco, e que ao som dos pregões é partido com pancadas fortes – uhmmm...delicioso.


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De repente toda aquela azáfama e linguagens ensurdecem e os olhares concentram-se num ponto do mar. Alguém diz maravilhado - Yunuş bak, orada! Seguimos-lhe o interesse no olhar para ver ao longe uma família de golfinhos que se desloca na direcção dos Dardanelos para o Ege Denizi.

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Um último tilintar da colher no copo em forma de túlipa do derradeiro chá açucarado da dezena que já consumimos e partimos pelo passeio marítimo em direcção ao sol poente. 

Quiosques de snacks e bebidas não alcoólicas pontuam este passeio. Espalhadas pelos degraus largos que descem até ao mar, as almofadas otomanas servem de palco e repouso para os flaneurs que deambulam paralelamente ao mar. 

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Passam véus e cabelos soprados pela brisa marítima de gentes de todas as idades, animadas ou contemplativas, tagarelando ou reflectindo, sentadas face àquela paisagem mítica. Em pano de fundo o som dos barcos cortando a água, o eco roncado dos navios de grande porte, os barcos de patrulha, os petroleiros que parecem por momentos engolir a Kiz Kulesi, numa azáfama incansável de ponto de encontro, cruzamento e partida de mundos diferentes. No meio do trânsito intenso e lento de "mirones", um grupo de homens dança halay ,acenando um lenço branco, ao som da música do Mar Morto que entoam sorridentes.

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Do lado esquerdo, na colina, as yalılar, algumas já restauradas, embora os seus madeiramentos continuem a transpirar uzun, reflectindo por laivos o esplendor dos tempos passados e impondo-nos as suas lembranças de vidas anteriores. Passear por Istambul é um constante deambular pelo presente sempre surpreendido pelo seu passado.

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O horizonte tinge-se de vermelho, o sol despede-se num até amanhã que queremos repetido, inşallah. As luzes iluminam a cidade com outro colorido e desvendam outras vidas urbanas. Os barcos iluminam-se. A lua e o seu yakamoz saúdam a longa e animada noite istambulense.

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Um çingene aborda os passeantes. Um coelho e uma caixa de madeira com papelinhos coloridos vão-nos dizer da nossa sorte, por apenas uma lira turca. Um outro cigano aponta para balões coloridos pousados nas águas escuras do mar e põe-me uma pistola na mão para lhes fazer pontaria. Sentado num banco corrido, um jovem dedilha música fasil num pequeno violino, mais à frente um vendedor apregoa  kumpir - e pelo ar espalha-se o perfume de batata cozida no forno, recheada com milho e ervilhas.


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A voz do muezzin ecoa lembrando o 5º vakit, a última oração do dia!

Iyi geceler! 

Canção de Üsküdar



Türkünün Sözleri

Üsküdar’a gider iken aldı da bir yağmur
Katibimin setresi uzun eteği çamur
Katip uykudann uyanmış gözleri mahmur
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yaraşır
Üsküdar’a gider iken bir mendil buldum
Mendilimin içine de lokum doldurdum
Katibimi arar iken yanımda buldum
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yar


GLOSSÁRIO

vapur - cacilheiro

iskele - cais

dolmuş - hopper

çay - chá

türk kahvesi - café turco

fal okumak - ler a sorte nas borras do café

balıkcılar - pescadores

deniz otobusleri -  barcos de transporte de passageiros

dondurma taze taze! - gelado fresquinho!

Maraş dondurması - gelado originariamente da região de Kahramanmaraş

halay - dança da região do Mar Morto

yalılar - casas de madeira

uzun - melancolia (bem descrita no romances de Orhan Pamuk)

inşallah - oxalá

yakamoz - luar reflectido no mar

çingene - cigano

kumpir - batata assada no forno recheada com milho cozido, cenouras e ervilhas refogadas e azeitonas

vakit - tempo (há cinco oraçãoes por dia que são designadas por vakit)

iyi geceler - boa noite


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