© Üsküdar copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt
Viajar em Istambul pelo lado da
Anatólia é descobrir uma outra cidade, mais genuína, e longe do turismo
quotidiano que se passeia por aquele pequeno monte do Palácio dos Sultões do
lado europeu desta maravilhosa cidade.
Descobrir-lhe os cantos e os segredos
mesmo, só é possível com os istambulenses que vivem quotidianamente nesta
cidade que foi a capital de impérios.
Esta metrópole de 14 milhões de
habitantes, número oficial, estende-se a perder de vista, e o trânsito é um
pesadelo de todos os dias.
Ao longo dos séculos viveram aqui
pacificamente, lado a lado, as três religiões do Livro, com alguns desencontros
menos felizes. Mas, em geral, e se compararmos com a intolerante Europa da Idade
Média e, mais tarde, da Inquisição, e já no séc. 19, a dos progroms eslavos, e por fim, a do Holocausto, esta
cidade, que foi Bizâncio, e depois Constantinopla, e que é Istambul desde a conquista otomana em 1453,
foi, e é, um exemplo de convivência e tolerância entre as nações e as
religiões.
A sua arquitectura, música e culinária
reflectem isso mesmo, o cruzamento e a passagem das diversas culturas com
simbioses bem-sucedidas. O filme "Crossing the Bridge - the music of Istanbul" do realizador germano-turco, Fatih Akin, compartilha com o seu público esta riqueza cultural.
Istambul situada a cavalo entre a Europa e a Ásia, ou a caminho da Europa ou do Médio Oriente, no Ocidente para uns e no Oriente para outros, esta cidade que vive em espargata cultural, é uma diva temperamental que nos planta a tentação de lhe descobrir todos os segredos. E assim nos enfeitiça como uma odalisca com os seus muitos movimentos ondulantes para lhe dedicarmos uma vida inteira, que sabemos nunca chegará para a desvendar totalmente! Istambul que tal como Lisboa se espalha por sete colinas frente a encontros de águas marítimas (e doces no nosso caso).
Istambul situada a cavalo entre a Europa e a Ásia, ou a caminho da Europa ou do Médio Oriente, no Ocidente para uns e no Oriente para outros, esta cidade que vive em espargata cultural, é uma diva temperamental que nos planta a tentação de lhe descobrir todos os segredos. E assim nos enfeitiça como uma odalisca com os seus muitos movimentos ondulantes para lhe dedicarmos uma vida inteira, que sabemos nunca chegará para a desvendar totalmente! Istambul que tal como Lisboa se espalha por sete colinas frente a encontros de águas marítimas (e doces no nosso caso).
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Atravessamos do lado europeu para o
asiático de vapur e atracamos no iskele de Üsküdar. O nosso
objectivo é fazer turismo naquele bairro e, por fim, seguir a sinuosa margem no
sentido do Mar Morto até Beykoz (isto ficará para outro "post").
A pé por Üsküdar
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Üsküdar é descrito por alguns como um município da grande Istambul algo conservador (o AKP foi o partido mais votado nas últimas eleições locais). Mas a política não é reconhecível numa primeira
visita, ou talvez sim, no investimento que se tem feito na reabilitação do seu passado otomano. Üsküdar é o ponto de encontro de cacilheiros, dolmuş, autocarros de e para todos os pontos da cidade. O enorme estaleiro de obras da linha de metro com destino a Kartal desfeia o passeio marítimo temporariamente. Os
istambulenses deslocam-se seguros e pacientes entre os vários meios de
transporte acessíveis nesta sua vida de grande metrópole.
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O palácio de Mihrimah filha do sultão Suleimão
e da sultana Hürrem, as fontes, as mesquitas, as livraria e os cemitérios otomanos do
bairro surpreendem e deslumbram os visitantes. A maestria e a originalidade do
arquitecto Sinan são imediatamente reconhecíveis neste conjunto arquitectónico
de grande beleza e concentrado num espaço relativamente pequeno (embora a sua população atinja os 535 mil habitantes segundo dados de 2012).
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As esplanadas junto ao mar convidam
para se tomar um çay ou um türk kafesi seguido de um eventual fal okumak, que nos falará do futuro lido numas borras de café deixadas no fundo da chávena,
enquanto se observa os muitos pescadores de braços prolongados por canas de
pesca e que, pacientemente, povoam o passeio marítimo que se estende por vários
quilómetros. Os istavrit, ismarit, sardalya dão os últimos suspiros nos baldes
dos balıkcılar bem sucedidos. Em pano de fundo, sucedem-se por via marítima, os
cacilheiros, os vapur e os deniz otubusleri, os cruzeiros, os barcos
de recreio, e os navios de carga e os petroleiros que quando de casco vazio passam
gigantescos, quais monstros marinhos, e que parecem saudar a kiz kulesi, um
marco das águas de Istambul, no que parece uma auto-estrada fluvial sempre à
hora de ponta e um caos muito bem organizado!
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vogt
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Dondurma taze taze - apregoa o vendedor, mesmo ali ao lado, do que parece ser gelado Maraş, um gelado mais sólido do que o habitual, tipicamente turco, e que ao som dos pregões é partido com pancadas fortes – uhmmm...delicioso.
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De repente toda aquela azáfama e
linguagens ensurdecem e os olhares concentram-se num ponto do mar. Alguém
diz maravilhado - Yunuş bak, orada! Seguimos-lhe o interesse no olhar para ver ao longe uma família de
golfinhos que se desloca na direcção dos Dardanelos para o Ege Denizi.
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Um último tilintar da colher no copo em forma de túlipa do derradeiro chá açucarado da dezena que já consumimos e partimos pelo passeio
marítimo em direcção ao sol poente.
Quiosques de snacks e bebidas não alcoólicas pontuam este passeio. Espalhadas pelos degraus largos que descem até ao mar, as almofadas otomanas servem de palco e repouso para os flaneurs que deambulam paralelamente ao mar.
Passam véus e cabelos soprados pela brisa marítima de gentes de todas as idades, animadas ou contemplativas, tagarelando ou reflectindo, sentadas face àquela paisagem mítica. Em pano de fundo o som dos barcos cortando a água, o eco roncado dos navios de grande porte, os barcos de patrulha, os petroleiros que parecem por momentos engolir a Kiz Kulesi, numa azáfama incansável de ponto de encontro, cruzamento e partida de mundos diferentes. No meio do trânsito intenso e lento de "mirones", um grupo de homens dança halay ,acenando um lenço branco, ao som da música do Mar Morto que entoam sorridentes.
Quiosques de snacks e bebidas não alcoólicas pontuam este passeio. Espalhadas pelos degraus largos que descem até ao mar, as almofadas otomanas servem de palco e repouso para os flaneurs que deambulam paralelamente ao mar.
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Passam véus e cabelos soprados pela brisa marítima de gentes de todas as idades, animadas ou contemplativas, tagarelando ou reflectindo, sentadas face àquela paisagem mítica. Em pano de fundo o som dos barcos cortando a água, o eco roncado dos navios de grande porte, os barcos de patrulha, os petroleiros que parecem por momentos engolir a Kiz Kulesi, numa azáfama incansável de ponto de encontro, cruzamento e partida de mundos diferentes. No meio do trânsito intenso e lento de "mirones", um grupo de homens dança halay ,acenando um lenço branco, ao som da música do Mar Morto que entoam sorridentes.
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Do lado esquerdo, na colina, as yalılar, algumas já restauradas, embora os seus madeiramentos continuem a transpirar uzun, reflectindo por laivos o esplendor dos tempos passados e impondo-nos as suas lembranças de
vidas anteriores. Passear por Istambul é um constante deambular pelo presente sempre surpreendido pelo seu passado.
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Um çingene aborda os passeantes. Um coelho e uma caixa de madeira com papelinhos coloridos vão-nos dizer da nossa sorte, por apenas uma lira turca. Um outro cigano aponta para balões coloridos
pousados nas águas escuras do mar e põe-me uma pistola na mão para lhes fazer
pontaria. Sentado num banco corrido, um jovem dedilha música fasil num pequeno violino, mais à frente um vendedor apregoa kumpir - e pelo ar espalha-se o perfume de batata cozida no forno, recheada com milho e ervilhas.
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A voz do muezzin ecoa lembrando o 5º vakit, a última oração do dia!
Iyi geceler!
Canção de Üsküdar
Türkünün Sözleri
Üsküdar’a gider iken aldı da bir yağmur
Katibimin setresi uzun eteği çamur
Katip uykudann uyanmış gözleri mahmur
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yaraşır
Üsküdar’a gider iken bir mendil buldum
Mendilimin içine de lokum doldurdum
Katibimi arar iken yanımda buldum
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yar
GLOSSÁRIO
vapur - cacilheiro
iskele - cais
dolmuş - hopper
çay - chá
türk kahvesi - café turco
fal okumak - ler a sorte nas borras do café
balıkcılar - pescadores
deniz otobusleri - barcos de transporte de passageiros
dondurma taze taze! - gelado fresquinho!
Maraş dondurması - gelado originariamente da região de Kahramanmaraş
halay - dança da região do Mar Morto
yalılar - casas de madeira
uzun - melancolia (bem descrita no romances de Orhan Pamuk)
inşallah - oxalá
yakamoz - luar reflectido no mar
çingene - cigano
kumpir - batata assada no forno recheada com milho cozido, cenouras e ervilhas refogadas e azeitonas
vakit - tempo (há cinco oraçãoes por dia que são designadas por vakit)
iyi geceler - boa noite
TODO O CONTEÚDO DESTE BLOGO ESTÁ PROTEGIDO POR DIREITOS DE AUTOR nacionais e internacionais © copyright DE CRISTINA DANGERFIELD-VOGT (desde a data de início do blog)
todos os TEXTO E FOTOS neste post com © copyright de Junho de 2012 de cristina dangerfield-vogt
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