Dienstag, 28. Januar 2014

A propósito do Dia Internacional do Holocausto





“Quem salva uma vida, salva o mundo”

Esta é uma frase comum ao Talmude e ao Alcorão

Começa assim o folheto de apresentação do filme "Passaporte Turco", do realizador Burak Arliel, e que nos conta as histórias dos vários diplomatas turcos na Europa que, ao conferirem a nacionalidade turca a muitos judeus europeus, os salvaram de uma morta certa; eles não foram mais um nome acrescentado à longa lista dos seis milhões de vítimas do holocausto

Doze combóios levaram estes judeus turcos para Istambul e salvaram-lhes a vida. Entre eles, havia também judeus europeus sem qualquer ligação à Turquia.

Diplomatas turcos deram passaportes turcos a judeus que não eram turcos, salvando-lhes a vida durante a segunda guerra mundial.

Em entrevistas com alguns dos judeus ainda vivos que assim foram salvos, os diplomatas que os socorreram e o seus familiares,  ficou claro que quando se quer agir, se pode evitar o mal.

A Turquia e estes seus diplomatas merecem, sem dúvida, um lugar de destaque entre aqueles que são  honrados no Museu do Holocausto em Jerusalém pela sua ajuda ao povo judeu.

O filme "Passaporte Turco" lembra esta história - a história esquecida dos diplomatas turcos estacionados em vários países europeus que salvaram muito judeus durante a perseguição dos nacional-socialistas. Estas histórias de compaixão são ilustradas por entrevistas, excertos de arquivos e de filmes históricos.

“Turkish Passport” foi exibido pela primeira vez em Cannes, em 18 de Maio 2011

O filme concorreu ao Festival Europeu de Filme Independente na categoria de Documentário em 2012.

Este projecto de seis anos, revela um segredo bem guardado durante 66 anos. O segredo sobre como cidadãos turcos salvaram centenas de judeus.




Righteous among the Nations Honored by Yad Vashem

Ulkumen, Selahattin 1989
Até 1 de Janeiro de 2011

copyright © Berlim Janeiro 2014 de Cristina Dangerfield-Vogt



'No state involvement in film'

 

Unbeknownst to many, Turkish diplomats on duty around Europe saved hundreds of Jews during World War II by giving them Turkish passports, enabling them to travel to safety in Turkey. This little known episode is told in an independent documentary entitled "Turkish Passport", being promoted as finally revealing "a secret kept for 66 years".The film recounts memories known mainly to 19 diplomats and the Jews they saved from German Nazi death camps. It is based on testimonies by witnesses and their relatives.
"To remember and never to forget," said Gunes Celikcan, 30, one of the producers, as he talked about why the film was made.  
"There is not much about what the Turks did during that period of history," Celikcan told AFP, as Turkey remained neutral during World War II.  
He said the diplomats saved around 2,000 Jews from the Holocaust but the exact figure is unknown. "We wanted to show this for the very first time and commemorate those diplomats," none of whom survive today, he said. The docudrama directed by Burak Arliel was first shown at the Cannes Film Festival in May. It has since been screened in Istanbul and other Turkish cities and made the rounds of festivals in the US and Europe. And though the buzz is quiet, it's building – and not all is favorable.
 Celikcan said the film has been six years in the making and "has nothing to do with the changing political spectrum".  But not all agree, including former Israeli cultural attaché in Turkey Batya Keinan. "The Turkish press office is using the movie for propaganda," Keinan said. "They are trying to say 'we are good people who protected Jews in the Holocaust and Palestinians now, and yet you shoot at us.' Shame on you." The comments have angered the movie's backers. "This film is not propaganda. ... There is no state involvement," said Asli Sena Genc, a representative for the Istanbul promoters. "This is a historical fact." Celikcan said the Turkish foreign ministry gave the filmmakers access to official archives, but ministry officials told AFP the film was a private initiative and the ministry made no official contribution. The docudrama recounts how the diplomats, including ambassador to Vichy France Saffet Arikan, found a way out for Turkish and foreign Jews, sending them to Istanbul on 12 trains at different points during the war. Behic Erkin, Turkey's ambassador to Paris from 1940-43, and Kudret Erbey, consul-general in the German city of Hamburg from 1940-45, were also involved. "Turkish diplomats did their best to save Jews amid the raging brutality against Jews during World War II," said Naim Guleryuz, a historian and onsultant on the film who heads a Turkish foundation that promotes the history and culture of Turkish Jews. "This part of the story is actually known by historians but we wanted to make it public knowledge through this documentary," he said. Researchers went to the United States, Israel, France and Germany, tracking down survivors or their relatives, some of whose tales are told on the film's official website. In one, Arlette Bules recalls when her father was arrested by the Germans and sent to the internment camp of Drancy, outside Paris."My mother immediately went to the Turkish Embassy and asked for help rescuing my father. Thanks to the letters written by the ambassador, my father was rescued," she said. Celikcan recalls another testimony about a Jewish father who called his two daughters to his deathbed after the war. "He told them 'never forget that it was the Turks who saved us' and then died making a military salute."


Written in January 2012

Donnerstag, 22. August 2013

Istambul - Üsküdar

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt


Viajar em Istambul pelo lado da Anatólia é descobrir uma outra cidade, mais genuína, e longe do turismo quotidiano que se passeia por aquele pequeno monte do Palácio dos Sultões do lado europeu desta maravilhosa cidade.

Descobrir-lhe os cantos e os segredos mesmo, só é possível com os istambulenses que vivem quotidianamente nesta cidade que foi a capital de impérios.

Esta metrópole de 14 milhões de habitantes, número oficial, estende-se a perder de vista, e o trânsito é um pesadelo de todos os dias.

Ao longo dos séculos viveram aqui pacificamente, lado a lado, as três religiões do Livro, com alguns desencontros menos felizes. Mas, em geral, e se compararmos com a intolerante Europa da Idade Média e, mais tarde, da Inquisição, e já no séc. 19, a dos progroms eslavos, e por fim, a do Holocausto, esta cidade, que foi Bizâncio, e depois Constantinopla, e que é Istambul desde a conquista otomana em 1453,  foi, e é, um exemplo de convivência e tolerância entre as nações e as religiões.

A sua arquitectura, música e culinária reflectem isso mesmo, o cruzamento e a passagem das diversas culturas com simbioses bem-sucedidas. O filme "Crossing the Bridge - the music of Istanbul" do realizador germano-turco, Fatih Akin, compartilha com o seu público esta riqueza cultural. 

Istambul situada a cavalo entre a Europa e a Ásia, ou a caminho da Europa ou do Médio Oriente, no Ocidente para uns e no Oriente para outros, esta cidade que vive em espargata cultural, é uma diva temperamental que nos planta a tentação de lhe descobrir todos os segredos. E assim nos enfeitiça como uma odalisca com os seus muitos movimentos ondulantes para lhe dedicarmos uma vida inteira, que sabemos nunca chegará para a desvendar totalmente! Istambul que tal como Lisboa se espalha por sete colinas frente a encontros de águas marítimas (e doces no nosso caso).

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Atravessamos do lado europeu para o asiático de vapur e atracamos no iskele de Üsküdar. O nosso objectivo é fazer turismo naquele bairro e, por fim, seguir a sinuosa margem no sentido do Mar Morto até Beykoz (isto ficará para outro "post").


A pé por Üsküdar


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Üsküdar é descrito por alguns como um município da grande Istambul algo conservador (o AKP foi o partido mais votado nas últimas eleições locais). Mas a política não é reconhecível numa primeira visita, ou talvez sim, no investimento que se tem feito na reabilitação do seu passado otomano. Üsküdar é o ponto de encontro de cacilheiros, dolmuş, autocarros de e para todos os pontos da cidade. O enorme estaleiro de obras da linha de metro com destino a Kartal desfeia o passeio marítimo temporariamente. Os istambulenses deslocam-se seguros e pacientes entre os vários meios de transporte acessíveis nesta sua vida de grande metrópole.
© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

O palácio de Mihrimah filha do sultão Suleimão e da sultana Hürrem, as fontes, as mesquitas, as livraria e os cemitérios otomanos do bairro surpreendem e deslumbram os visitantes. A maestria e a originalidade do arquitecto Sinan são imediatamente reconhecíveis neste conjunto arquitectónico de grande beleza e concentrado num espaço relativamente pequeno (embora a sua população atinja os 535 mil habitantes segundo dados de 2012). 


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt


As esplanadas junto ao mar convidam para se tomar um çay ou um türk kafesi seguido de um eventual fal okumak, que nos falará do futuro lido numas borras de café deixadas no fundo da chávena, enquanto se observa os muitos pescadores de braços prolongados por canas de pesca e que, pacientemente, povoam o passeio marítimo que se estende por vários quilómetros. Os istavrit, ismarit, sardalya dão os últimos suspiros nos baldes dos balıkcılar bem sucedidos. Em pano de fundo, sucedem-se por via marítima, os cacilheiros, os vapur e os deniz otubusleri, os cruzeiros, os barcos de recreio, e os navios de carga e os petroleiros que quando de casco vazio passam gigantescos, quais monstros marinhos, e que parecem saudar a kiz kulesi, um marco das águas de Istambul, no que parece uma auto-estrada fluvial sempre à hora de ponta e um caos muito bem organizado!

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-
vogt




Dondurma taze taze - apregoa o vendedor, mesmo ali ao lado, do que parece ser gelado Maraş, um gelado mais sólido do que o habitual, tipicamente turco, e que ao som dos pregões é partido com pancadas fortes – uhmmm...delicioso.


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

De repente toda aquela azáfama e linguagens ensurdecem e os olhares concentram-se num ponto do mar. Alguém diz maravilhado - Yunuş bak, orada! Seguimos-lhe o interesse no olhar para ver ao longe uma família de golfinhos que se desloca na direcção dos Dardanelos para o Ege Denizi.

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Um último tilintar da colher no copo em forma de túlipa do derradeiro chá açucarado da dezena que já consumimos e partimos pelo passeio marítimo em direcção ao sol poente. 

Quiosques de snacks e bebidas não alcoólicas pontuam este passeio. Espalhadas pelos degraus largos que descem até ao mar, as almofadas otomanas servem de palco e repouso para os flaneurs que deambulam paralelamente ao mar. 

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt


Passam véus e cabelos soprados pela brisa marítima de gentes de todas as idades, animadas ou contemplativas, tagarelando ou reflectindo, sentadas face àquela paisagem mítica. Em pano de fundo o som dos barcos cortando a água, o eco roncado dos navios de grande porte, os barcos de patrulha, os petroleiros que parecem por momentos engolir a Kiz Kulesi, numa azáfama incansável de ponto de encontro, cruzamento e partida de mundos diferentes. No meio do trânsito intenso e lento de "mirones", um grupo de homens dança halay ,acenando um lenço branco, ao som da música do Mar Morto que entoam sorridentes.

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Do lado esquerdo, na colina, as yalılar, algumas já restauradas, embora os seus madeiramentos continuem a transpirar uzun, reflectindo por laivos o esplendor dos tempos passados e impondo-nos as suas lembranças de vidas anteriores. Passear por Istambul é um constante deambular pelo presente sempre surpreendido pelo seu passado.

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

O horizonte tinge-se de vermelho, o sol despede-se num até amanhã que queremos repetido, inşallah. As luzes iluminam a cidade com outro colorido e desvendam outras vidas urbanas. Os barcos iluminam-se. A lua e o seu yakamoz saúdam a longa e animada noite istambulense.

© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt

Um çingene aborda os passeantes. Um coelho e uma caixa de madeira com papelinhos coloridos vão-nos dizer da nossa sorte, por apenas uma lira turca. Um outro cigano aponta para balões coloridos pousados nas águas escuras do mar e põe-me uma pistola na mão para lhes fazer pontaria. Sentado num banco corrido, um jovem dedilha música fasil num pequeno violino, mais à frente um vendedor apregoa  kumpir - e pelo ar espalha-se o perfume de batata cozida no forno, recheada com milho e ervilhas.


© Üsküdar  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt










A voz do muezzin ecoa lembrando o 5º vakit, a última oração do dia!

Iyi geceler! 

Canção de Üsküdar



Türkünün Sözleri

Üsküdar’a gider iken aldı da bir yağmur
Katibimin setresi uzun eteği çamur
Katip uykudann uyanmış gözleri mahmur
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yaraşır
Üsküdar’a gider iken bir mendil buldum
Mendilimin içine de lokum doldurdum
Katibimi arar iken yanımda buldum
Katip benim ben katibin el ne karışır
Katibime kolalı da gömlek ne güzel yar


GLOSSÁRIO

vapur - cacilheiro

iskele - cais

dolmuş - hopper

çay - chá

türk kahvesi - café turco

fal okumak - ler a sorte nas borras do café

balıkcılar - pescadores

deniz otobusleri -  barcos de transporte de passageiros

dondurma taze taze! - gelado fresquinho!

Maraş dondurması - gelado originariamente da região de Kahramanmaraş

halay - dança da região do Mar Morto

yalılar - casas de madeira

uzun - melancolia (bem descrita no romances de Orhan Pamuk)

inşallah - oxalá

yakamoz - luar reflectido no mar

çingene - cigano

kumpir - batata assada no forno recheada com milho cozido, cenouras e ervilhas refogadas e azeitonas

vakit - tempo (há cinco oraçãoes por dia que são designadas por vakit)

iyi geceler - boa noite


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todos os TEXTO E FOTOS neste post com ©  copyright de Junho de 2012 de cristina dangerfield-vogt

all photos and text in this post are protected by  ©  copyright June 2012 cristina dangerfield-vogt





Dienstag, 30. Oktober 2012



in TRT English - 30th October 2012

Turkey's Prime Minister Erdoğan arrived today in Berlin and during his visit will inaugurate the new Turkish Embassy building in Tiergarten, which is considered to be the biggest of all Turkish embassies in the world.

"ERDOĞAN TO LEAVE FOR GERMANY TODAY

Turkish Prime Minister Recep Tayyip Erdoğan will depart for Germany on Tuesday.

Erdoğan to leave for Germany today
 
Posted 30.10.2012 07:40:39 UTC
Updated 30.10.2012 09:18:34 UTC
Within the framework of a two-day visit to Germany, Premier Erdoğan will visit Berlin today and attend inauguration ceremony of the new Turkish Embassy building in that city.
Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoglu and his German counter part Guido Westerwelle will also be present at the opening ceremony of the new Embassy building in Berlin.
Erdoğan then will deliver a speech at the Institute of Berlin.
On Wednesday, Mr. Erdoğan will meet German Chancellor Angela Merkel.
Syrian crisis is expected to be taken up by the duo during their meeting in the German capital.
Hence, problems of Turkish citizens living in Germany as well as the process for Turkey's bid for the European Union membership will also be discussed at the planned meeting."


in Haaretz 30th October 2012
Turkey's Berlin embassy moves back into its WWII home

Recep Tayyip Erdogan is scheduled for a 2-day visit in Germany, where he will also meet Angela Merkel to discuss the civil war in Syria.


epa03451253 An exterior view of the new Turkish Embassy in Berlin, Germany, 29 October 2012. The new building of Turkey's representation in Germany will be officially opened by Turkish Premier Erdogan on 30 October 2012.  EPA/MICHAEL KAPPELER
epa03451253 An exterior view of the new Turkish Embassy in Berlin, Germany, 29 October 2012. The new building of Turkey's representation in Germany will be officially opened by Turkish Premier Erdogan on 30 October 2012. EPA/MICHAEL KAPPELER
Prime Minister Recep Tayyip Erdogan was to inaugurate a new Turkish embassy in Berlin on Tuesday, with the grandiose building underlining
his nation's ambition to become a member of the European Union.
The mission, Turkey's largest abroad, has been erected in the German capital's upscale Tiergarten embassy district, on the site where a Turkish
embassy stood until Allied bombardment late in World War II left much of the city in rubble.
The 30-million-euro (39-million-dollar) building, entered through a 16-metre-high copper-lined archway, is located between the missions of
South Africa and Italy.
Erdogan was to wrap up his visit to Berlin on Wednesday, when he meets Chancellor Angela Merkel to discuss the conflict in Syria. More than
100,000 Syrians have sought refuge in Turkey.
Some 2.5 million people living in Germany have ethnic Turkish roots. The two nations have close trade ties.
The embassy building is divided into two parts: the so-called "palace," which contains reception areas and the ambassador's office; and the
"city," which contains office space for 100 staff.
Between them is an atrium named after the Bosporus, the waterway separating the European and Asian parts of Turkey.
Thomas Hillig, one of the three architects, said the modern lines and grandeur of the building were an expression of Turkey's desire to join the
European Union, adding, "Turkey wants to show itself as a modern, open nation."
Turkish ornamentation on the building includes the national logo and more subtle features such as a traditional Islamic pattern known as girih
interlacing, which is engraved on the window glass.
"It's meant to look Turkish and not be just a faceless block," Hillig said.
Tiergarten was picked as the city's embassy neighborhood under the Nazis, when the architect Albert Speer was commissioned to remake the
city and the Axis allies Italy and Japan built their embassies there.


Sonntag, 12. August 2012

Turquia: Ramadão 2011 e 2012



  © 2012 Berhamkale - Assos


Estamos no Ramadão, Ramazan (tr) Ramadan (ar). Ou seja, o período de jejum e oração para os muçulmanos, interrompido pela Iftar, que é a refeição tomada depois de o sol se pôr, após o Muezzin ter chamado os fiéis para a 4ª oração do dia. Em alguns lugares da Turquia, soam os tambores que anunciam o fim do jejum ao cair da noite. Por volta das três horas da manhã, o Muezzin acorda os crentes com uma melodia lindissima, a ilahi, da qual existem várias versões; antes de se dar novamente início ao jejum do dia com o nascer do sol, é tomada a refeição da madrugada - a Suhar. Pouco depois, o Muezzin chama para a 1ª oração do dia, o 1º vakit, dos 5 Vakti, os cinco tempos de oração ao longo do dia. Inicia-se o jejum do dia. Muitos se perguntam o significado deste jejum. Foi neste período que Allah, que é apenas a palavra árabe para Deus, tal como em inglês se diz God e em francês Dieu, começou a revelar a mensagem do Alcorão a Maomé e é precisamente esta Revelação que se comemora durante o Ramadão. Este mês é ainda um período de reflexão sobre vários aspectos religiosos e sobre a vida que vivemos durante a passagem terrena. O jejum, que implica não comer nem beber nem fumar durante o dia, inter alia, serve para lembrar, sentindo na própria pele, o que, porventura, sentem os desprovidos, famintos e sedentos; é também um mandamento ou pilar do islão fazer caridade aos pobres, especialmente nesta altura do ano. As crianças, os doentes, as grávidas, os viajantes estão dispensados de jejuar, embora, no fundo, cada um possa decidir por si próprio se irá ou não jejuar, já que cada um é responsável por si e por escolher o relacionamento com Allah que lhe está mais perto do coração. É também possível oferecer um certo valor em dinheiro pelos dias de jejum não cumpridos, o que pode ser decidido por consulta a um imam, e essa importância será canalizada para caridade. Claro que, no Islão, há muitas vertentes, tal como no Cristianismo e no Judaísmo, e haverá uma variedade significativa de interpretações possíveis sobre este e outros assuntos religiosos conforme o islão em que se nasceu ou se escolheu praticar. A consulta dos Hadith, ou seja os comentários dos exegetas do Alcorão, pode ser preciosa em questões de interpretação.



© 2012 Sultan Ahmed Istambul


© 2012 Sultan Ahmed Istambul

São várias as iguarias típicas desta época e as donas de casa, e também os cozinheiros, excedem-se nos seus dotes culinários para quebrar o jejum depois do pôr-do-sol. Durante o Ramadão, as famílias visitam-se muito e praticamente todos os dias há convidados nas famílias turcas. A azáfama do Ramadão é indescritível. O dia passa-se em preparações para a Iftar e nas orações. Em muitas aldeias turcas não se trabalha porque é difícil jejuar, mas nem todos jejuam, nem todos deixam de trabalhar. Aproxima-se o fim deste período muito importante no calendário muçulmano e a época festiva que se segue é o Şeker Bayram (tr),  o Festival do Açúcar,  ou o Eid al Fitre (ar), isto é, a grande celebração que assinala o fim de Ramadão e que é celebrada por todos, tenham ou não cumprido o jejum. Os não-muçulmanos também são convidados para a Iftar e para as celebrações do fim do Ramadão, mostrando os turcos a sua atitude de tolerância centenária e, sobretudo, a sua enorme hospitalidade. Assim como no Natal se deseja um Santo Natal aos cristãos, aos muçulmanos deseja-se Ramazan Mübarek olsun ou Hayırlı Ramazan (tr), Ramadan Mubârak (ar). Findo o Ramadão, é de tradição desejar aos familiares, amigos ou mesmo estranhos as Boas ou Santas Festas: Iyi Bayramlar (tr), ou Eid Mubârak ou Eid Saíd (ar) pessoalmente, ou por cartão ou postais com os motivos festivos da época.

É tempo de celebração, de amizade e de solidariedade com os mais desfavorecidos e de não esquecer de dizer àqueles de quem se gosta e se ama, que gostamos deles e os amamos.

O DIB, entidade religiosa estatal turca, e outras organizações, preparam banquetes públicos na rua para quebrar o jejum à noite, como por exemplo, nas imediações da mesquita de Sultan Ahmed, que fica no centro monumental de Istambul. No fim do Ramadão, muitos partem para umas merecidas férias. Neste ano de 2012 no corso de Istambul há um mercado com casinhas onde se pode comprar artesanato e artefactos tradicionais turcos aberto à noite. As ruas estão cheias de gentes de todas as idades e de todas as nações que passeiam pelo centro histórico de Istambul numa atmosfera intensa de festa. A lua cheia espreita por detrás de uma das torres da Mesquita Azul e os fiéis e os turistas entram e saem de uma das mais bonitas e emblemáticas desta metrópole.

Conhecer as festividades das outras religiões aproxima-nos das pessoas com crenças e culturas diferentes das nossas e afasta-nos dos profetas da desgraça que apostam numa interpretação negativa e nefasta da Humanidade, insistindo na faceta do conflito das civilizações. O desconhecimento do outro promove a xenofobia, enquanto o conhecimento das outras culturas nos aproxima uns dos outros! Na realidade, temos muito mais em comum do que aquilo que nos afasta e, no caso das três religiões abraâmicas, até temos o mesmo patriarca, ou seja Abraão...

Por isso não se esqueçam de dizer aos vizinhos ou amigos muçulmanos nos próximos dias: Ramazan Berekt Olsun ou Ramadan Mubarek e no fim deste período de reflexão -  Iyi Bayramlar ou Eid Mubârak ou Eid Saíd!...







E, a propósito festas e culinária, deixo uma sugestão de çorba, ou seja, sopa em turco, que adoro, e até as há, instantâneas:



© 2011  Pacote da Maggi sobre um mapa de Istambul no cruzamento entre a Europa e a Ásia


o seu ingrediente principal é a Tarhana que é feita com farinha, yogurte, salça - molho de tomate turco, pimento vermelho, cebola, sal e fermento.

Em muitas aldeias prepara-se a Tarhana a partir destes ingredientes que são amassados até obter uma massa uniforme, que se põe a secar ao sol até ficar em pó; isto é um método de preservação natural que permite saborear esta sopa deliciosa mesmo no inverno.

Aqui vai a foto de uma das fases de preparação da Tarhana Çorbası numa aldeia turca



© 2011  Turquia: Preparação da massa de Tarhana na açoteia de uma casa de aldeia

e para abrir o apetite para as celebrações, aqui vão algumas fotos para espreitar e antever os sabores da culinária turca



© 2011  ciğ boreği e biber dolması






© 2011

 




 © 2011 yoğurtlu semizotu


e, para terminar, uma foto do 3º lugar mais sagrado para o Islão, e ainda o lugar santissimo do Cristianismo e do Judaísmo, tirada no bairro árabe de Jerusalém antiga durante o Ramadão. De notar que a uns metros à frente há uma das estações do calvário de Jesus, logo seguida de mesquitas e do complexo austríaco católico - uma rua ecuménica no bairro árabe de Jerusalém, que é árabe: muçulmano e cristão. Por esta mesma rua, passam rápidos os ultra-ortodoxos judeus em correria entre o Muro das Lamentações e o Bairro ultra-ortodoxo de MeaShearim, situado fora das muralhas, e também os muçulmanos que, nesta altura do ano, visitam o recinto da mesquita Al Aksa e da Cúpula da Rocha onde o patriarca Abraão esteve disposto a sacrificar um dos seus filhos, se Deus, Allah, não tivesse interferido noutro sentido. As ruas estão iluminadas durante todo o período do Ramadão e as ruas cheias de famílias árabes numerosas que passeiam em trajes de festa depois da Iftar - passar por lá nesta altura especial do ano, é uma experiência fantástica e inesquecível e, assim, aqui fica uma pequena memória fotográfica.

 

© 2011  Jerusalém ou Al Kuds - a Sagrada, durante o Ramadão


Desejo a todos:

Ramazan mubarek olsun (tr)

Ramadan Mubarak (ar)

e a partir do dia 20 de Agosto, data em que termina o Ramadão de 2012

İyi Bayramlar (tr)

Eid mubârak e Eid Saíd (ar)


Para quem gosta de música, deixo um exemplo das canções Ilahi

http://www.youtube.com/watch?v=uClz3vSDCQk


copyright © 2011  do texto e de todas as fotos de Cristina Dangerfield-Vogt, com actualização de 12.08.2012

Mittwoch, 9. Mai 2012

Turquia: em Lisboa





http://www.youtube.com/watch?v=XDhcjuH835Y&feature=youtu.be

de Başar DiKiCi-Dağlar ile taşlar ile-NEY



O Ney é um instrumento de sopro feito de cana e muito especial no Médio Oriente e, particularmente, na Anatólia, na Turquia; é um instrumento milenar que se vê nas pinturas egípcias; foram encontrados neys em escavações arqueológicas em Ur, no Iraque, o que indica que o Ney é tocado há já 4 ou 5 mil anos; quando alguém deixa o nosso mundo e parte para o outro, o da luminosidade, sopra-se o ney para dar asas ao espírito e recita-se versos em persa e em árabe. Note-se que se diz, soprar o ney, e não, tocar! 

O Ney é o instrumento por excelência dos sufis, das ordens de mevlevi, utilizado nas suas cerimónias religiosas - Sêma. A sua música é como o vento que sopra pelos canaviais, ora acariciante, ora agreste, por vezes sussurrante outras voluntarioso, e que nos canta as melodias sopradas e modificadas pelas fissuras e buraquinhos resultantes da erosão natural e do passar do tempo. A sua música é um lamento de saudade pelo Criador.

Na Turquia, o Ney tem sete buracos: seis na frente e um no verso. A sobreposição dos dedos nestas aberturas e a forma de soprar modifica os sons que formam as melodias.

Ele foi arrancado da mãe terra, cortado dos canaviais e por isso se lamenta,

nas palavras do poeta e filósofo Jalal Al-Din Al-Rumi no "Mathwani," escritas há  uns 700 anos

" Oiçam nos lamentos do Ney
as suas estórias sobre a separação,
"Desde que me arrancaram ao canavial,
 homens e mulheres fazem ouvir os seus queixumes
em uníssono com os meus,
mas eu quero um coração que esteja destroçado,
destroçado pela separação,
para eu poder explicar o meu anseio,
de regresso à minha fonte"


tradução livre do inglês

Espero ter-lhes suscitado o interesse por este maravilhoso e espiritual instrumento.

p.s. O Ney esteve em Lisboa e vai voltar pela mão da Associação de Amizade Luso-Turca.




copyright © 2011 cristina dangerfield-vogt